São José Allamano tinha uma conceção elevada da missão: a sua não era apenas filantropia, voluntariado, empenho ocasional… Uma vez que a missão está ligada à ação salvífica de Deus, os valores do “espírito” eram considerados por ele de importância fundamental.
Exigia sempre o melhor dos seus missionários, sobretudo neste domínio. A santidade era uma condição para a missão: “primeiro santos e depois missionários”; (às Irmãs) “Não basta ser boas; ser melhores não chega; excelentes!”; “Sim. Só Deus. Tudo para Deus, tudo de Deus, tudo em Deus” (Tudo pelo Evangelho, p. 134). “Mantenhamos os olhos fixos no alto! É lá que está o nosso objetivo: só Deus!” (Tudo pelo Evangelho, p. 149).
No imaginário comum do seu tempo, pelo contrário, a missão era pensada como um fazer, realizar, construir, fundar… Sempre e tudo como uma atividade. José Allamano, pelo contrário, centrava-se muito na “passividade”, na aceitação dos valores, no ser como fundamento do fazer (recordemos a imagem da “concha” que ele utilizava frequentemente nas suas conferências).
Monsenhor Vacha Emílio, sacerdote de Turim, deixou este testemunho significativo por ocasião do processo de Beatificação de Allamano:
«Em 1903, quando fui a Roma para recolher as relíquias do mártir Adeodato, o Cónego Allamano pediu-me para procurar um “corpo santo” (relíquia óssea) também para as Missões da Consolata, mas dois dias depois escreveu-me que não me preocupasse com essa relíquia insigne, porque “o Santo será encontrado no meio dos meus queridos Missionários”». Esta expressão não era apenas um desejo piedoso, mas refletia aquilo que era a preocupação constante de Allamano: fazer com que os seus missionários se tornassem santos. Ele não queria relíquias de santos no Instituto, mas santos vivos!
É significativo que os redatores de “Tudo pelo Evangelho” tenham colocado como primeiro capítulo: “Santidade e missão, a finalidade do nosso Instituto”. De facto, Allamano queria que a santidade estivesse sempre em primeiro lugar: “Missionários sim, mas santos”. Este foi o leitmotiv de todo o seu ensinamento. Uma vez que as citações a este respeito são muitas, aqui fica apenas uma: “Alguns pensam que ser missionário consiste apenas em pregar, correr, batizar, salvar almas; não, não! Este é apenas o objetivo secundário: santifiquemo-nos primeiro a nós mesmos e depois aos outros. Quanto mais santo for um missionário, mais almas salvará” (Conf. IMC. III, 258) (manuscrito seu). “Todos dizem que viestes para vos fazerdes missionários; mas não: antes de mais, deveis dizer: vim para me fazer santo!” (Conf. IMC III, 659).
O texto das Constituições do IMC, na esteira do ensinamento do Fundador, traça sucintamente o caminho para a realização da vocação missionária: “A evangelização dos povos é a finalidade que nos carateriza na Igreja; realizamo-la para glória de Deus e em santidade de vida, conforme o significado que o Fundador lhe atribuía, quando proclamava: ‘Primeiro santos, depois missionários’ (n. 5).

Algumas caraterísticas do estilo de santidade segundo José Allamano
Pôr-se na companhia dos santos
São José Allamano não só se alimentava com os ensinamentos e exemplos dos santos, mas também quis dá-los a nós como protetores ou padroeiros. O livro “Scegliendo fior da fiore”, do P. Francesco Pavese, demonstra-nos amplamente este facto. Ele queria que não só rezássemos aos nossos protetores para pedir a sua intercessão, mas que eles se tornassem os nossos modelos de vida e inspiração para viver a missão.
Santidade no plural
Allamano queria que nos ajudássemos uns aos outros a tornar-nos santos; por isso quis também dar-nos o espírito de família como caraterística do Instituto. Desde o tempo do Fundador, o apelo à santidade ressoou sempre nos nossos Institutos. Basta recordar o biénio sobre a santidade, celebrado nos anos 2006-2008. Um dos seus frutos foi a bela publicação “O Missionário da Consolata, Santo” (2012). Das nossas Direções Gerais veio-nos depois um forte apelo a “fazermo-nos santos juntos”. “A santidade não é apenas um ‘assunto pessoal’ e nem sequer o fruto de um caminho individual. Tal como a missão tende para a comunhão com Deus e com os outros, assim também a santidade de vida se alimenta da comunhão e conduz à comunhão; um ideal, este, caro ao Fundador que exortava: ‘Todos juntos ajudar-nos-emos a tornar-nos santos’…”.
Jesus – modelo excelente
A santidade de Allamano tem um forte cunho cristológico: Jesus é o modelo por excelência da santidade apostólica. Sobre este aspeto, Allamano era muito claro, a ponto de apontar Jesus como modelo de todas as virtudes. Deste modo, o Fundador apontava diretamente para Jesus no seu caminho de santidade: segui-lo, aprender com ele, imitá-lo, unir-se a ele na Eucaristia. Jesus foi sempre o ponto de referência constante na sua vida e ele queria que o fosse também para os seus missionários.
Com constância, na esteira de São José Cafasso
Depois da Beatificação de José Cafasso, que nos foi dado como Protetor especial, Allamano fez este comentário interessante: “O heroísmo da sua virtude consiste na constância. O heroísmo não consiste em milagres, mas em fazer violência sobre si mesmo, em manter-se firme na boa vontade, em não perder tempo: e isto diz-nos respeito. Cada dia que passa, admiro mais a vida deste homem, porque ele não andava aos saltos, não, ia sempre em frente; era o seu caminho e… em frente; e fez isso toda a vida. Sempre a mesma fé, o mesmo amor a Deus e ao próximo; sempre prudente, sempre justo, sempre temperante… não lhe faltava nada […], ia sempre em frente; fazia sempre tudo bem” (cf. Così vi voglio p. 178).
Para a reflexão pessoal
“O missionário da Consolata, santo”, Roma 2012.
Tudo pelo Evangelho, cap. 1.
F. Pavese, “Scegliendo fior da fiore”, 2014
- No centenário do nascimento do Fundador para o céu, que aspeto da sua santidade sinto que devo valorizar mais na minha vida?
- Qual é o santo, de entre os que nos são propostos por Allamano, que mais me serve de mestre e guia, e porquê?
- A Palavra de Deus, a Eucaristia, a devoção à Consolata foram os aspetos mais salientes no caminho de santidade de São José Allamano. São salientes também na minha vida?
